quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Bom Natal.. um Feliz Natal.. Muito AMOR e PAZ pra você!!!!

Essa época do ano a gente para pra repensar os valores que são mais importantes. É também a época em que fazemos um "backup" do ano todo, salvamos o que mais marcou e deletamos o que não nos acrescentou nada.


É muito doloroso quando você chega nessa data com tantas lembranças que você pode até guardar no seu "backup" mas não poderá nunca mais sentí-las ou vivê-las de novo!!


Que Deus nos dê forças e sabedoria para passar as festas em que o amor reina em nossas vidas, sem ter aquela pessoa que a gente ama e não pode transferir esse amor pra mais ninguém, apenas guardá-lo na pasta das recordações!


Portanto, se você está cercado de pessoas que você ama, se você as tem todas por perto, faça questão de dizer isso a elas, de demonstrar, de aproveitar cada segundo desse amor.. porque se um dia essas pessoas partirem, a SAUDADE não será motivo suficiente pra trazê-las de volta!!!


Saudade do meu branquelo... :'(

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Dezembro.. vem o NATAL!!!!


O Natal vem chegando.. aquela época do ano em que o convívio em família nos motiva, nos anima, nos faz querer que o tempo passe logo pra que a semana em que estaremos todos reunidos chegue bem rápido, que a ceia seja linda e deliciosa, que o natal seja iluminado, enfeitado, cheio de musiquinhas pelas ruas da cidade, com luzes iluminando o cantinho mais escuro das ruas... luzes alegres, coloridas, cheias de vida e esperança... mas esse ano não temos muito o que comemorar, pois o nosso encontro de família foi interrompido e a falta que nos faz o pedaço que nos foi tirado será eterna e os natais nunca mais serão os mesmos... pois família toda unida, agora, só no céu!!!

O coração aperta a cada dia, e tudo que é motivo de festa para a maioria das pessoas, para nós é motivo de saudade... de lembrança... Jesus nasceu... mas nosso Samuel se foi pra sempre!!! Não tem como não se entristecer com isso!!!

E nesse ano, nosso natal será em família, mas com um pedaço faltando... o pedaço que nos ensinou a dar valor a coisas que nunca antes consideramos tão importantes quanto agora!! E se ele nos ensinou tanto, com certeza é um presente!!! Então nesse natal, teremos um presente... uma estrela nos guiando, nos ensinando o que é bom e nos dizendo: "É assim que se faz.... um dia vamos nos reencontrar!!"

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Uma Vida em 5 Minutos!!!!

    Ontem, feriado de finados, foi um dia muito difícil para nós. Em meio a tanto medo, tanta saudade, tanta tristeza, juntamos todas as nossas forças, tomamos uma dose extra de coragem e fomos até o cemitério "ver" nosso pequeno Samuel. No portão do cemitério eu já conseguia sentir o cheiro... um cheiro que não sei explicar, eu entendi como cheiro de saudade. E lá, procurando o túmulo, lendo os nomes nas placas, eu voltei no tempo e me ví lá 1 ano atrás, quando eu acabava de descobrir uma gravidez já de quase 8 semanas, quando a nossa vida deu uma reviravolta e ao mesmo tempo que eu fiquei apreensiva eu estava ali feliz, comemorando a chegada de outro filho.
    Quer saber?? Bons tempos eram aqueles, embora todas as dificuldades que enfrentávamos, ainda eram bons tempos, afinal eram tempos de esperança, espectativas, sonhos e planos.
   Uma funcionária da pax veio nos ajudar a encontrar o túmulo e de repente ali me deparei com o lugar onde eu ví o meu filho pela última vez. O lugar onde eu o deixei e fui obrigada a virar as costas pra ir embora deixando ali um ser tão pequeno, tão indefeso e ao mesmo tempo tão amado... amado demais!!! Ali em frente àquela pedra eu reviví as 42 horas e 55 minutos da vida do Samuel... Como é possível?? Lembrei de cada detalhe... dos minutos que passei com ele nos braços, da notícia trágica do falecimento, da hora do nascimento quando eu o ví pela primeira vez. Ali eu conseguí até sentir sua cabecinha quente, ainda molhada, encostando no meu rosto enquanto ele me procurava pra sentir meu cheiro. Os cabelinhos úmidos, com cheiro de água de parto, aqueles olhinhos fechados e as mãozinhas tão pequenas que dava medo até de pegar. Ali eu relembrei coisas que, num dia de tanta tristeza e tantas lágrimas, eu havia deixado passar despercebido. E naquele momento eu sentí que poderão passar 20, 30, 50 anos, mas todas as vezes que eu voltar lá eu vou sentir o cheiro dele, vou ouvir o chorinho dele e vou sentir o toque das mãozinhas que eu tanto amei. Vocês podem até pensar "mas que diferença faz ela ir ou não?". Pra mim faz TODA a diferença, porque só depois que você enterra um filho é que você sente uma necessidade desoladora de ter aquele filho outra vez, de estar com ele outra vez, de sentí-lo outra vez. Estar ali é como se eu pudesse tê-lo de novo comigo por alguns minutinhos. É como fechar os olhos e pensar que tudo não passou de um pesadelo e meu filho está ali comigo, nos meus braços, lindo e sorridente, com os olhos brilhando pra mim. Estar ali é TUDO que me restou dele, da presença dele. Afinal, ele está ali, dormindo... e eu aguardo ansiosíssima pelo dia em que Jesus vai tirar o meu filho dali, lindo... perfeito... e vai entregar nos meus braços e dizer: Muito bem servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei. ENTRA NO GOZO DO TEU SENHOR!!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Muito Além do Entendimento!!!



Hoje é um dia daqueles que eu paro pra questionar o propósito de Deus em certas coisas.

Ser uma mãe pela metade é ser uma mãe a quem foi negado o direito de viver a plenitude da maternidade. É tentar, dia após dia, entender o porquê da vida seguir rumos tão indesejados. A Bíblia diz: Não Matarás!!! Sim, é pecado matar.. mas e MORRER?? Deveria ser pecado também!!!! Logo, o mandamento deveria dizer: "Não tentarás matar, pois o próximo está proibido de morrer"!
Parece sem sentido, não?? Mas faz muito sentido quando é o seu filho que está naquele caixão!! Ser uma mãe pela metade é ter que conviver com essa ausência eternamente e não ter nem o direito de resposta. Simplesmente porque ninguém é capaz de te explicar.

Gabriella tinha HVE, como meu Samuel.. lutou, lutou e lutou.. enfrentou 3 dias numa máquina dilacerante, que vai aos poucos destruindo aquilo que ela deveria reconstituir. Mas Gabi estava lá, forte, determinada a lutar enquanto houvesse chance. Todos pedimos, todos oramos, imploramos a Deus pelo milagre.. até que começamos a nos compadecer do sofrimento dela, já com hemorragia pelo corpo todo, e mudamos nosso desejo, queríamos agora somente que ela parasse de sofrer... Seus pais a entregaram nas mãos de Deus e deixaram Ele terminar a obra dando o descanso para Gabriella. Sim, Deus deu o descanso, mas o que não conforma é exatamente saber que ela tinha um problema grave que poderia não ter. Mas a vontade de Deus vai muito além do nosso entendimento, vai além de tudo que ousamos desvendar. Deus não está aqui pra nos dar o que queremos, Ele está aqui pra nos dar o que precisamos... Gabi veio pra cumprir uma missão, e com certeza a cumpriu! Hoje, com o coração dilacerado, revivendo junto com a minha amiga Ana Carolina tudo que eu viví 4 meses atrás, eu entendo que ser uma mãe pela metade é dar a metade do nosso coração pra um filho levar embora e permitir que esse filho, que antes tinha apenas meio coração, agora tenha o coração inteiro, completado com a nossa metade!! Carol é hoje, assim como eu, uma mãe com meio coração, que também pediu a Deus pra sofrer no lugar da sua filha e Deus, em sua infinita bondade, escutou e atendeu!!!


LUTO!!!!!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

120 Dias e de Volta ao Trabalho!!

Os últimos dias foram angustiantes, sufocantes, alarmantes e cheios de tensão. Dentro de mim havia uma luta sendo travada entre o meu EU e a minha AUTO ESTIMA. Perder um filho nos deixa com a sensação de fracasso, de incompetência e essa sensação acaba, aos poucos, com qualquer perspectiva que você tenha gerado antes dessa perda. Quando eu fui pra São Paulo, eu sabia que voltaria e teria muitas dificuldades pela frente, eu só não sabia quais eram elas. E posso dizer que, de todos os desafios, o maior seria aceitar o que Deus tinha reservado pra mim. Hoje voltei ao trabalho, depois de 120 dias que passaram voando. Pois é, passou bem rápido, mas a dor é tão recente como se tudo tivesse acontecido nessa madrugada. O medo de voltar para o trabalho e não conseguir me readaptar estava me consumindo dia após dia. Cheguei a pensar em pedir exoneração imediatamente, depois achei que poderia esperar as férias, depois já pensei no 13o e assim fui "subindo", mas mesmo assim a impaciência não me deixava um momento sequer.

Cheguei no Comando às 07:40h para assumir o serviço às 08:00h e fui surpreendida com um evento que eu havia apenas ouvido falar. A MARCHA AZUL MARINHO das Guardas Municipais do estado de Mato Grosso do Sul. Cheguei pronta para o que me ordenassem, e fui convocada a participar da MARCHA e lá fui eu, ou melhor, lá fomos nós. Foram 3km de caminhada numa rua cheia de ladeiras, em marcha acelerada, às vezes com gritos de guerra, às vezes sem... E enquanto meus colegas gritavam "GUARDAS UNIDAS VENCEM UNIDAS" eu engolia a seco as lágrimas que queriam escorrer, engolia o fôlego com orgulho de fazer parte desse time!! E enquanto eles davam nosso grito de guerra, eu pensava cá comigo: "Um Guarda sozinho, não vence!" Mas nesse momento eu não me referia à Corporação e sim a mim mesma, como Guarda Municipal. Pois esses meus colegas de trabalho, alguns que nem me conheciam devido a quantidade de GMs na nossa cidade, me ajudaram no momento mais difícil de toda a minha vida. E isso prova que a Guarda Municipal unida, pode conseguir o que quiser.

Obrigada meus amigos, que nos ajudaram a pagar a dívida que fizemos pra trazer nosso filho pra casa. Ele não veio nos meus braços, mas veio no meu coração e por ele eu quero dizer a todos que lerem essa mensagem, que as verdadeiras amizades não são aquelas que te elogiam, que te trazem as melhores fofocas, que riem com você.. mas são aquelas que estão ao seu lado no momento em que você só consegue chorar!

Hoje eu tenho certeza que a minha vida mudou, mas sei também que junto com essa mudança veio um grupo de pessoas que eu jamais vou esquecer... os meus colegas de trabalho!!

"As dificuldades são temporárias... a desistência é para sempre!"

Liliane Caramel

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

3 MESES sem você!!!!!

Hoje são 3 meses sem meu pequeno... há 3 meses atrás eu o deixava no cemitério, num caixãozinho branco, dentro de uma gaveta de concreto, pra sofrer a eterna dor de ser mãe de um filho devolvido... Deus me deu o Samuel e eu o devolví a Ele, exatamente como fez Ana, com seu filho, o profeta Samuel. Ana pediu a Deus um milagre, pediu um filho pois ela não conseguia engravidar. Ela prometeu a Deus devolver seu filho a Ele quando fosse maiorzinho, pra que ele trabalhasse pra Deus, no tabernáculo. E Deus realizou o milagre na vida de Ana, ela engravidou e chamou seu filho de Samuel. Samuel cresceu e foi educado nos caminhos de Deus e quando ele estava maiorzinho, Ana o levou para o tabernáculo, pra devolver o seu filho a Deus, como havia prometido. Samuel ficou ali, ajudando Eli nas tarefas religiosas e até chegou ouvir a Voz de Deus, conversou com Deus muitas vezes, e por conta disso o nome Samuel tem um lindo significado "Eu Pertenço a Deus"!!

 Foi assim com o meu Samuel também, eu o devolví pois ele não me pertencia, pertencia ao Criador que fez todas as coisas... e hoje, 3 meses depois, eu choro de saudade, mas tenho certeza que um dia Deus ouviu o meu pedido. Eu apenas pedí a Deus pra sofrer no lugar do meu filho... e MAIS UMA VEZ DEUS ME OUVIU!!!!!! A saudade será eterna, mas a paz de ter devolvido meu filho ao Ser Supremo que PODE TODAS AS COISAS, me da forças pra continuar!!! Um dia, se Deus achar que eu mereço, Ele me devolverá Samuel lindo, perfeito e com um coração inteiro e aí sim, seremos uma família inteira de novo... e felizes PARA SEMPRE!!! Porque eu acredito na eternidade...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

THIAGO!! O PEQUENO GRANDE VALENTE!!!

Gente, o Thiago é o filho da nossa Presidente da AACC Pequenos Corações, e embora a sua morte tenha trazido muita dor a família e a todos que acompanhavam a sua luta, Thiago nos deixou muitas lições e deixou para a Márcia Adriana uma missão muitíssimo especial, a missão de cuidar de outros corações especiais como o do Thi.. gostaria de compartilhar com vocês a história de luta e garra desse campeão, que mesmo depois de partir, nos deixou lindas lembranças!! Segue o relato da Márcia, mãe do Thiago...



A história do Thiago começa na Eternidade, quando Deus planejou seu nascimento e decidiu que ele viria pra nós, assim, perfeito aos olhos de Dele, e especial para as nossas vidas.

Depois de 13 anos de casados já tínhamos a Victoria com 5 anos e Deus nos presenteou com a grata surpresa de mais um filho, só não sabíamos que este presente seria muito mais especial do que podíamos imaginar.
 
Soubemos que o coração do Thiago era ”diferente” com 20 semanas de gestação no ultrassom morfológico. Fomos encaminhados ao cardiologista, que diagnosticou uma cardiopatia congênita complexa, e desde aquele momento tivemos a certeza que a nossa vida nunca mais seria a mesma.

Na procura por um especialista, fomos encaminhados à Dra. Lílian Lopes, e esperávamos e pedíamos a Deus que o cardiologista de Bauru tivesse se enganado, e realmente ele se enganou, mas pra pior. Na verdade, o diagnóstico era Síndrome de Hipoplasia do Coração Esquerdo, a cardiopatia mais grave e severa que existe. A Dra. Lílian disse que a equipe que tinha melhores resultados com essa cardiopatia era a do Dr. José Pedro da Silva, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, mas mesmo assim nos deu um prognóstico muito ruim, pois além do lado esquerdo do seu coração praticamente não existir, o Ventrículo Direito era mais “fraco”, pois a válvula tricúspide também “vazava” (insuficiência tricúspide) e isso fazia com que seu coração trabalhasse em dobro.

Comecei a procurar informações na internet e a pedir orientação de vários profissionais da saúde, mas tudo era muito desanimador. Teve médico que chegou a dizer: “Qualquer juiz autorizaria um aborto nessas condições.” Nunca consideramos essa hipótese. Sabíamos que se Deus havia nos dado um filho assim, haveria de nos dar condições de lutar pela sua vida.

Passei a receber informações de várias crianças vivas que haviam sido operadas pelo Dr. José Pedro e entendi que era ele que Deus havia escolhido pra cuidar do nosso bebê. Tivemos problemas com o plano de saúde, muito desgaste para aprovar os procedimentos, mas Deus já havia colocado outros anjos em nosso caminho para nos ajudar nesse sentido.




·  Nascimento e primeira cirurgia (Norwood)

O Thiago nasceu dia 24/02/2006, pesando 3.350g e 51 cm, foi operado com 5 dias de vida e superou diversos obstáculos e complicações, e por isso passamos a chamá-lo carinhosamente de “Pequeno Valente”’. Ficou 68 dias na UTI e teve inúmeras complicações: ficou com o tórax aberto por 7 dias, teve sangramento depois da cirurgia, várias arritmias cardíacas, precisando usar marca-passo. Teve parada respiratória, hipotiroidismo, foi extubado e re-intubado 3 vezes, sem contar que ficou 20 dias em jejum absoluto, pois desenvolveu uma enteropatia (tipo de inflamação no intestino) que até hoje nenhum médico conseguiu explicar o que foi, como passou e por que desapareceu do mesmo jeito que apareceu. Em consequência disso tudo ele perdeu 1 kg nesse tempo, ficou desidratado e desnutrido, parecia só pele e osso literalmente. Pelo menos 3 vezes chegaram a nos dizer que já tinham feito tudo o que podiam e que o resto era esperar que Deus ajudasse e ele reagisse. Mas Deus o sustentava dia a dia, e a sua recuperação surpreendia a todos, e contrariava todos os prognósticos médicos.




·  Segunda cirurgia (Glenn)

Depois que ele foi para o quarto começou a melhorar bastante, engordou e foi para a 2ª cirurgia com 4 meses e meio. Correu tudo bem, exceto pelo fato de não ter mais veias para colocarem catéter nele. Tiveram que colocar um catéter direto no coração, algo extremamente delicado e perigoso. Saiu da UTI com 7 dias e parecia que estaríamos de alta bem rapidinho. Infelizmente, não foi o que aconteceu, pois começou a apresentar muito cansaço e inchaço, e passou a ficar mais cianótico (roxinho). O seu coração já não estava “dando conta do recado”. O ventrículo direito estava super dilatado e com disfunção (ou seja, não conseguia bombear adequandamente todo o sangue). O coração dele ainda continuava com uma insuficiência tricúspide (a válvula não fechava direito, por onde o sangue voltava e sobrecarregava ainda mais um coração já fraco) e um pequeno estreitamento na aorta. Aos poucos foi melhorando e quando achávamos que teríamos alta, pegou uma virose e foram mais 15 dias de hospital. Em resumo, Thiago chegou a ficar quase 7 meses internado,  foram, na verdade, 193 longos dias de internação, desde que nasceu. Fomos para casa no dia 30/09/2006, e finalmente ele pôde conhecer sua casa, seu quartinho, e ter uma vida em família.

Quando Thiago fez 11 meses decidimos procurar um neuropediatra, pois estranhávamos o fato de ele ainda não sentar, e mexer muito pouco a mãozinha esquerda. Fomos encaminhados por esse mesmo neuropediatra para realizar uma tomografia cerebral e um eletroencefalograma, onde ficou comprovado que nosso Pequeno Valente tinha uma malformação cerebral. A parte frontal do cérebro dele era um pouco menor do que o normal. Além disso, ele apresentava algumas calcificações, que são pontos anormais no cérebro, que podem ter sido devido a algum tipo de sangramento ou infecção. Em razão disso, o Thiago desenvolveu  uma dificuldade motora em todo o lado esquerdo do corpo, e precisou fazer diversos tipos de terapias para ajudar no seu desenvolvimento. O mais incrível de tudo isso é que o Thi encarava cada tratamento, cada internação e cada terapia com a maior alegria, sempre sorrindo e encantando a todos que o conheciam. Nada disso era difícil demais pra ele, pois a vida pra ele sempre foi uma dádiva, uma alegria do momento em que ele acordava, até a hora de ir dormir.



·  Terceira cirurgia (Fontan)

Em fevereiro de 2008 Thiago submeteu-se a terceira cirurgia cardíaca, a Fontan. Foi muito difícil pra nós entregarmos o Thiago bem, brincando e fazendo gracinhas no centro cirúrgico, mas sabíamos que era necessário; reunimos todas as nossas forças e assim o fizemos no dia 25/02/2008, um dia depois de o Thiago completar 2 aninhos de vida.

A cirurgia foi muito tranqüila, sem intercorrências, durou cerca de 6 horas e o Thiago foi para a UTI relativamente bem, exceto pelo fato de estar com o coração um pouco acelerado. Pudemos vê-lo algumas horas depois, por volta das 19 horas, e tudo parecia estar dentro do normal.

No entanto, algumas horas depois, o organismo do Thiago começou a rejeitar todo o sangue do seu corpo, como uma reação à máquina de extra-corpórea utilizada na cirurgia, (trata-se de uma máquina que faz as vezes do coração e pulmões enquanto é feita a cirurgia) e nessa situação todas as veias e artérias do corpo se inflamam e paralisam, praticamente impedindo a circulação normal do sangue. Em decorrência disso o Thiago ficou extremamente inchado, e seu coração recém operado passou a trabalhar com muita dificuldade, elevando ainda mais os batimentos, e com a pressão arterial muito baixa, apesar de terem aumentado  todos os medicamentos.
À 1:00 hora da madrugada recebemos um telefonema do hospital pedindo a presença da família “para conversar com a equipe médica”. Foi o maior susto de nossas vidas, pois àquela hora, uma solicitação daquelas só poderia ser algo de muito ruim... Chegamos a pensar que o Thi não havia resistido... Mas graças a Deus, ele ainda estava lá, lutando bravamente pela vida, e tinha sido levado para fazer um cateterismo de urgência, para fechamento de artérias colaterais que estariam encharcando os seus pulmões. O restante da noite foi de muita luta, tiveram que reabrir o tórax dele para estancar um sangramento, e devido ao coração estar muito inchado, permaneceu com o tórax aberto por mais 4 dias. Na manhã seguinte o Thiago estava irreconhecível, tamanho era o inchaço. Passou a fazer diálise, pois seus rins não trabalhavam mais sozinhos (insuficiência renal). A quantidade de aparelhos, drenos, e bombas de medicamentos que o cercava naquele leito de UTI impressionava até os que estavam acostumados.

Depois de muitas lutas, uma quantidade imensa de medicamentos, e muito empenho da equipe médica, Thiago foi melhorando e em 4 dias fecharam seu tórax, suspenderam a diálise e retiraram alguns drenos. Depois de ser extubado teve “síndrome de abstinência” dos medicamentos e ficou muito agitado e delirante. Teve alta para o quarto depois de 13 dias da cirurgia, mas em dois dias teve que voltar para a UTI, pois teve um estreitamento grave na traquéia (decorrente das intubações) e foi submetido a um procedimento para dilatar a traquéia. Três dias depois, quando teria alta para o quarto novamente, teve um derrame pleural abundante (líquido na parede que recobre o pulmão) e precisou ser submetido a uma cirurgia (videotoracotomia) para drenar o líquido e liberar aderências que atrapalhavam a drenagem. Nesse dia cheguei na visita da UTI esperando a alta para o quarto, mas tivemos a notícia que o estado dele era muito grave, e mais uma vez vi meu filho praticamente sem vida, abatido, com olheiras profundas e uma cor amarelo-acinzentada que parecia  que ele já estava sem vida. Nessa hora chorei e orei a Deus para me dar um sinal, aumentando a sua saturação, que tinha estado em 62% toda aquela manhã. Fiquei ali, chorando e orando por algum tempo, até que, na hora que ia terminar a visita, a saturação do Thiago foi subindo, subindo, até ficar em 72%. Louvei Deus  com todas as minhas forças, pois tinha certeza que aquele era o sinal de Deus pra mim que meu filhinho iria sobreviver!

Thiago passou mais 18 dias na UTI, foi tratado de 3 infecções diferentes, teve dias muito difíceis, mas superou. No quarto foram mais 30 dias tomando muitos medicamentos, fazendo fisioterapia respiratória e muitos exames, mas pela graça de Deus, após 70 dias de internação, retornamos para casa trazendo o nosso Pequeno, mas agora Grande Valente! Em apenas 70 dias, nosso Grande Valente passou e superou 7 procedimentos invasivos: 1 cirurgia cardíaca de grande porte, 2 cateterismos, 2 toracotomias, 1 broncoscopia (para abrir a traquéia) e 1 videotoracotomia (cirurgia do pulmão). 

Depois dessa quantidade enorme de procedimentos, e com tantas complicações, sentimos que o Thiago já não era mais o mesmo. Ele se cansava facilmente, e sua cor era sempre muito arroxeada... Os exames dele apontavam um meio-coração fraco (com disfunção de VD), os episódios de vômitos (o Thiago sempre vomitou muito) e infecções respiratórias se repetiam com frequência.





·  Buscando novas alternativas

Um ano após a sua terceira cirurgia, sentimos que precisávamos tentar outras opções, pois a equipe que sempre cuidou muito bem do Thiago dizia não ter nada a ser feito, mas nosso coração dizia que devíamos pelo menos tentar buscar mais alternativas.

Fomos procurar o Incor, na pessoa da Dra Estela Azeka, para pedir uma segunda opinião, e saber da possibilidade de colocarmos o nosso filho na fila do transplante cardíaco. Depois de diversas consultas e alguns exames, a doutora nos disse que os pulmões do Thiago já não aguentariam um transplante cardíaco, e isso somado às sequelas neurológicas que ele tinha, inviabilizaria um coração pra ele... Como foi dolorido ouvir aquelas palavras e perceber que não existia mais nenhum recurso humano pra manter a vida do nosso filhinho amado... Só nos restava continuar confiando em Deus, que sempre faz o melhor pra um filho seu!





·  Deixando a vida seguir seu curso...

Tentamos continuar levando a nossa vida em frente, amando o Thiago, e permitindo que ele vivesse a vida intensamente, dentro dos seus limites. A essa altura ele já estava na escolinha, onde era muito feliz e amado por todas as crianças e as “tias”. Em casa ele brincava com a Victoria sua irmã, amava assistir Cocoricó, corria com sua motoquinha o tempo todo, e adorava se balançar no avião azul... Sempre distribuindo sorrisos e beijinhos, e agora ele também havia aprendido a “abençoar” as pessoas. Bastava chegar alguém (conhecido ou não) perto dele e ele ia em direção à pessoa com a sua mãozinha, colocava sobre a cabeça da pessoa e depois dizia, bem alto, e com ênfase: AMÉM!!! Todos se espantavam, muitos se arrepiavam e até diziam: “Que criança é essa? Até parece um anjo!!”

No dia 07 de julho de 2009 o Thiago acordou mais amuadinho, mas nada que chamasse atenção. A tarde ele foi pra escolinha, mas logo as tias ligaram pra pedir pra busca-lo, visto que não estava alegre e arteiro como de costume, e aquilo preocupava as tias. Chegando em casa, o Thi pediu para ir “nanar”, coisa que ele jamais fazia no meio da tarde, portanto fiquei observando.  Ele não tinha febre, nem cansaço, apenas estava aparentando mais sonolência e tossiu um pouquinho, mas nada além do de costume.

Meia hora depois ouvi uma tosse forte, incessante, corri para o seu quarto e ele estava sentado na cama, inteiramente roxo, e tossia como se algo o estivesse  asfixiando. Em desespero, dei uns tapinhas nas suas costas e imediatamente a tosse cessou, e dele voltou a dormir. Fiquei ali do lado, só esperando o Paulo chegar para o levarmos ao hospital e depois de uns 15 minutos aconteceu novamente, a mesma tosse estranha, com um barulho esquisito e apesar dos meus tapinhas, ele não voltava, foi arroxeando, depois ficou pálido e desfaleceu no meu colo. Nesse mesmo instante o Paulo entrou, pegou-no no colo e começou a dar tapas em suas costas, quando tossiu algo que veio até a sua boca, que parecia uma secreção mais encorpada, quase emborrachada. Nisso o SAMU chegou, o levamos ao hospital e ninguém conseguia entender o que se passava. (Alguns meses depois viemos a saber que aquilo se tratava de uma complicação raríssima e tardia da cirurgia de “Fontan”, chamada de “bronquite plástica”). Thiago foi internado, passou a noite relativamente bem, mas no dia seguinte teve outa crise idêntica a que havia tido no dia anterior, em casa... Ele foi levado à UTI, onde chegou saturando 55%. Thiago foi entubado e tivemos que deixa-lo na  UTI, onde acreditávamos que ele estaria bem cuidado.
No dia seguinte, no horário da visita fomos informados que depois que saímos o Thiago teve uma parada respiratória seguida de uma parada cardíaca, e a reanimação não foi fácil. Depois disso, Thiago passou a convulsionar (coisa que nunca havia acontecido), e passou a ter hemorragias pelo estômago e pulmões. Ficamos inconformados por não termos sido avisados logo do ocorrido e entendemos que ali não era lugar para o Thiago ficar, já que ninguém ali conhecia seu problema tão bem como os médicos de São Paulo.
Com muita luta e muita briga, conseguimos transferir nosso menino para o Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, onde ele chegou em choque, em coma, com hemorragias e convulsões.
Ali Thiago passou seus 40 ultimos dias, sempre lutando pela sua vida, sempre surpreendendo, dia após dia, numa luta incansável que jamais poderemos esquecer.
No dia 16 de agosto de 2009 Thiago apresentou uma melhora bastante grande, o que nos encorajou a irmos até Bauru, pois eu teria que passar em uma perícia no INSS e não poderia faltar. Saímos de São Paulo às 18h, e às 6h da manhã o telefone da nossa casa tocou... o mais triste e doloroso som que nunca gostaríamos de te ouvido... era o hospital, pedindo a nossa presença. Com muito custo consegui falar com o médico plantonista, que nos informou que o Thiago havia tido uma hemorragia pulmonar devastadora, que o deixou mais de 20 minutos sem conseguir ventilar. Perguntei: “Mas ele está vivo?” e o médico disse que estava, mas talvez não por muito tempo...
Começamos a correr pra tentar chegar o quanto antes em São Paulo, mas uma série de ocorrências não nos permitiu chegar antes das 16h. Era dia 17 de agosto de 2009, dia do aniversário do papai Paulo. Na viagem, oramos a Deus pedindo um presente naquele dia: que o Senhor curasse o Thiago milagrosamente e nos deixasse com ele por mais algum tempo, ou que o curasse também, na Glória, com o Senhor. O que não suportaríamos seria continuar presenciando a dor e o sofrimento do nosso “Pequeno Grande Valente”.
Quando entramos na UTI estava ali o nosso filhinho amado, ainda vivo à custa de medicamentos, com os batimentos cardíacos em 40bpm... Ao lado da caminha dele estava a Dra Gabrielle, médica querida que o manteve vivo até aquela hora para que nós pudéssemos nos despedir dele... Ela nos avisou que a partir daquele momento não aplicaria mais a adrenalina, o que faria com que seu coração parasse em torno de 15 minutos... Entendemos o recado e fomos nos despedir do nosso filho amado.
Naquele instante eu e o Paulo entregamos o Thiago de volta aos braços de Deus, o beijamos, oramos com ele, cantamos, e tivemos a oportunidade de dizer o quanto fomos felizes por tê-lo como nosso filho. Ali agradecemos a Deus pelo privilégio Dele ter confiado a nós uma criança tão especial, que mudaria as nossas vidas e a vida de tanta gente pra sempre.
Os minutos foram se passando, e o meio coração do Thiago permanecia ali, firme, batendo devagarzinho, mas sem oscilar, o que contrariou mais uma vez a expectativa dos médicos. Passou-se mais de uma hora e a médica já estava até impaciente, sem entender como ele se mantinha firme, mesmo sem a medicação que estivera o dia todo o mantendo vivo...
Nisso o celular do Paulo tocou e ele saiu para atender. Era a vovó pedindo noticias do neto amado... Fiquei sozinha com o Thi e sentindo que ele precisava de algo mais para se despedir, olhei para a enfermeira que cuidava dele com tanto carinho e pedi que ela me desse ele no colo... No meio de tantos fios, drenos, tubos e catéteres, segurei o corpinho já tão cansado do meu menino... Aquele corpinho já tinha sofrido tanto... tinha sido cortado, furado, apertado, amassado, revirado e invadido inúmeras vezes... Era hora de descansar!!
Quando o abracei forte em meus braços pedi para que ele não lutasse mais, e que fosse morar com o Papai do Céu, num lugar onde não haveria mais dor, nem lágrimas, nem sofrimento algum, onde “Deus enxugaria de seus olhos toda lágrima” Disse no ouvido dele que o amava demais e prometi que a sua história não acabaria ali, pois aquilo tudo que ele havia começado, levando força e esperança para tantas famílias, eu iria continuar... Nesse instante o Paulo entrou na sala e olhando o monitor me avisou: “O coração dele está parando... está batendo a 20bpm”. Ali permanecemos abraçados mais alguns minutos, até que seu meio coração finalmente parou de insistir e desistiu... descansou... parou...
Aqui deveria ser o final triste de uma história de muita luta, dor e amor, mas se você está lendo esta história no site Pequenos Corações deve saber que aqui foi apenas o início de mais dezenas, centenas e milhares de histórias parecidas, mas que em sua maioria terão um final bem mais feliz.
Para nós, ficou a alegria de ter convivido 3 anos, 5 meses e 24 dias com a criança mais cativante, sorridente e feliz que conhecemos, e a certeza de que o amor infinito que dedicamos ao nosso Thi foi tão grande, que transbordou e inundou muitos outros “pequenos coações”.
A Deus toda honra e toda glória por tudo o que fez e tem feito em nossas vidas!
“O Senhor o deu, o Senhor o levou: louvado seja o nome do Senhor!”



Mãe: Márcia Adriana Saia Rebordoes,
Pai: Paulo Moreira Rebordões.












terça-feira, 2 de agosto de 2011

Psiquiatra fala sobre a dor de perder um filho



Geraldo Ballone Psiquiatra fala sobre a dor de perder um filho
 Por Elliana Garcia 


  Quem perde os pais fica órfão; e quem perde um filho? A dor é tão grande que não tem denominação. É uma dor sem nome. Diante da inversão do curso da vida, em que os pais estão enterrando seus filhos, como lidar com a perda repentina? Como reconstruir a vida e superar essa dor? O professor e psiquiatra Geraldo Ballone, criador do site www.psiqweb.med.br e autor dos livros “Histórias de Ciúme Patológico e  Da Emoção à Lesão” e “Psiquiatria e Psicopatologia Básicas” fala que “a perda de um filho é a maior frustração que pode acontecer a alguém”. Lidar com a morte nem sempre é fácil, qual o conselho para passar por um período de luto? Os sentimentos diante da perda são universais e atemporais e acometem todos os seres humanos viventes e em todas as épocas de nossa história. Mesmo assim, não se pode dizer que alguém esteja absolutamente preparado para aceitar com naturalidade a perda de uma pessoa querida. Alguns sofrem mais que outros, mas todos sofrem.  Este sofrimento, entretanto, pode variar de acordo com a sensibilidade pessoal, com o tipo de pessoa que se perde e com as circunstâncias da perda. Não há fórmula mágica para lidar bem com o luto ou com as perdas. Parece fazer parte do desenvolvimento normal da personalidade humana vivenciar perdas, mas as condições que acompanham essas perdas e algumas atitudes emocionais podem minimizar o sofrimento. O contrário também é verdadeiro, ou seja, circunstâncias capazes de causar indignação, sensação de impotência, o grau de sofrimento da pessoa que morre são alguns dos fatores que podem agravar muito a angústia de quem fica. A cada dia vemos relatos de pais que perdem os filhos. Como lidar com essa dor? De fato, existem muitos pais que perdem os filhos para a morte, mas existem muitos também que perdem os filhos em vida, para as drogas e para o crime. Por isso, disse antes que as circunstâncias da perda são relevantes. A dor específica pela morte de um filho representa a perda de uma parte de nós mesmos, alguma coisa que sabemos ser definitiva e irreversível e, muitas vezes, nem sabemos se a parte que ficou foi maior ou menor do que aquela que se foi. A base do sofrimento existencial humano são as frustrações, um sentimento de aborrecimento que surge quando nosso destino foge totalmente de nosso desejo. Todo ser humano experimenta muitas frustrações, o tempo todo e a vida toda, desde frustrações leves até as maiores. A perda de um filho é a frustração maior que pode acontecer a alguém, é um golpe fatal no destino desejado. É mais sofrível ainda porque foge do fisiologismo naturalmente esperado, que é os filhos enterrarem os pais e não o contrário. De que forma, eles podem reconstruir a vida? Não há mágica, nem mistério. É com muito esforço, tijolo por tijolo, pedra por pedra. Quem sente as dificuldades dessa empreitada pode procurar ajuda de várias maneiras; terapia, psiquiatria, ajuda espiritual, apoio de pessoas queridas. A medicina, através da psiquiatria, é apenas uma das maneiras de abordar pessoas que necessitam. É indicada quando profundos estados depressivos impedem a pessoa de recomeçar, quando a depressão suga toda energia necessária para querer continuar vivendo.  Não há palavras para decifrar a intensidade da dor e da saudade. Mas, do ponto de vista psiquiátrico, é mais traumático perder um filho pequeno ou adulto? Em psiquiatria existe uma coisa muito séria: o valor nunca é qualidade do objeto, é o sujeito que coloca valor no objeto. Isso significa que a pessoa que sofre a perda é quem valoriza o objeto perdido, logo, os sentimentos são de autoria exclusiva do sujeito. Resumindo, ninguém pode avaliar ou atribuir algum valor ao objeto perdido além do sujeito que o perdeu. Posso responder, apenas teoricamente, que a dor é proporcional também ao vínculo afetivo que a pessoa em luto tem com a pessoa perdida. Nesse caso, é possível que uma criança muito nova tenha um vínculo afetivo menos intenso e sólido do que o vínculo afetivo com um filho mais velho. Supõe-se assim, ser mais difícil superar a perda de quem tenha uma representação afetiva mais duradoura e intensa. A pergunta pode parecer até incoerente, mas será que os pais não se culpam muitas vezes no caso da perda de crianças, que poderiam ter sido mais protegidas por eles? É claro que sim. Mesmo que a conduta dos pais tenha sido exemplar e irreprimível, por uma simples questão emocional (geralmente depressiva) eles sempre pensam que poderiam ter feito mais. E geralmente os complexos de culpa parecem ser mais comuns em pais consequentes, presentes e atuantes, cuja consciência também costuma ser mais ampla. A inconsequência e negligência de algumas pessoas parece não ser acompanhada de discernimento suficiente para o sentimento da culpa. Demora muito para os pais se darem conta da perda de um filho? Como se diz, “cada caso é um caso”. Diante de uma doença fatal, por exemplo, existe certo tempo entre o diagnóstico e a evolução fatal. A família, diante de um diagnóstico grave como, por exemplo, câncer letal, inicialmente não acredita muito na gravidade do problema, depois vem a fase de revolta e do “por que justo ele?”, depois vem as promessas e orações, e finalmente, vem a aceitação do inevitável com profunda tristeza. Não é o caso, por exemplo, da morte por acidente ou assassinato. Inicialmente, diante da surpresa, a revolta e indignação são as emoções mais intensas. Há, comumente, uma inclinação a encontrar responsáveis ou responsabilizar pessoas pelo ocorrido. Daí, vem a aceitação acompanhada dos sentimentos de perda e dor. Perder os filhos para as drogas ou para o crime, dependendo do caráter dos pais, é uma das perdas que mais se acompanha de sentimentos de culpa. Embora as pessoas sem retardo mental sejam responsáveis por suas escolhas, mesmo assim os pais costumam se sentir responsáveis pelas opções delituosas dos filhos. Mesmo sabendo da quase irreversível inversão de valores do mundo atual, da influência maléfica da qual os filhos são vítimas na escola, na rua, nos vídeos games, etc., mesmo percebendo que enquanto eles, os pais, puxam os filhos para o bem, um batalhão arrasta-os para o outro lado. Mesmo diante de tudo isso, os pais se sentem bastante impotentes, culpados e fracassados. No caso de pais que perderam filhos de forma violenta, se engajar em ONGs contra violência ajuda a superar a perda? Sem dúvida. Muitas vezes, uma experiência terrivelmente dolorosa pode amadurecer a personalidade e vice-versa, ou seja, personalidades mais maduras parecem sobreviver melhor às experiências sofríveis. Infelizmente, a maioria das pessoas se mobiliza com mais determinação quando os sentimentos, angústia, fome, sede, enfim, quando a dor afeta diretamente a si própria. Essas iniciativas são muito boas do ponto de vista pessoal e cívico. Politicamente não sei ao certo até que ponto as pessoas devem compensar a falta do Estado através dessas iniciativas. Porém, emocionalmente é válida a tentativa de promover atitudes que visam evitar sofrimentos de outras pessoas. Como os pais devem agir com outros filhos, se porventura tiverem, já que muitas vezes os sentimentos concentrados no filho que morreu podem fazer falta aos demais? Este é um problema muito sério também. E não acontece apenas diante da perda de um filho. Muitas vezes, um grave problema ou deficiência de um dos filhos pode exigir atenção intensiva dos pais e, involuntariamente, acaba faltando atenção aos outros. Temos visto em consultório pessoas adultas que guardam péssimos sentimentos ou ressentimentos, mesmo inconscientes, sobre a falta ou abandono que sentiram em relação a pais que se dedicaram exclusivamente ao irmão problemático. O mesmo fenômeno pode acontecer diante da perda de um dos irmãos. Onde os pais podem encontrar forças para se reconfortarem da perda já que ambos estão fragilizados? Vivenciar o luto é uma contingência obrigatória diante das perdas. Algumas pessoas conseguem superar perdas depois de muito empenho e sofrimento, outras precisam de atenção especial ou profissional. Os consultórios psiquiátricos e psicológicos estão cheios de casos de depressão grave, de transtornos de estresse pós-traumático, de sérias limitações decorrentes de síndromes do pânico, de ansiedade crônica e grave. Isso sem contar as cardiopatias ocasionadas emocionalmente e muitas outras doenças psicossomáticas. Aprende-se a viver apesar dessas perdas, mas esquecê-las ninguém esquece, e a qualidade da vida emocional jamais será a mesma. Acho que este é o ônus doloroso e silencioso ao qual estamos todos sujeitos a pagar pela vida em sociedade, porém, todos sabemos que em algumas sociedades esse ônus é mais frequente e maior. E aqueles pais que não enterraram seus filhos (caso Eliza Samudio, em que até o momento o corpo não foi encontrado). Fazer um enterro ajuda na recuperação? O ser humano vem enterrando seus mortos de maneira ritual desde a pré-história. Evidentemente a religiosidade é um dos maiores alívios que uma pessoa encontra diante do infortúnio; é o conforto e esperança de quem fica. O sepultamento ou qualquer outro féretro, como a cremação, não aliviam a dor, mas, sem dúvida, esta seria maior e mais angustiante sem um enterro.   Perdoar ajuda a aliviar a perda de um ente querido que foi vítima da violência?   O perdão sempre faz bem à alma. É um peso a menos para se carregar pela estrada da vida.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Samuel.. Hoje teria 2 meses!!!

Eu já sentei aqui centenas de vezes
Peguei uma caneta pensando no que escrever.
Fiz planos pra você, pra nós, pra nossa vida!!
Desejei te ver mais cedo só pra matar a saudade de um cheirinho de bebê.
Depois me acalmei, tive paciência e esperei pelo seu tempo.
Pensava em coisas lindas
Em frases pra te escrever, presentes pra te dar, mimos pra te dengar.
Eu sempre imaginei você aqui quebrando as coisas...
Queria muito que você tivesse vindo com menos pressa...

Hoje completam 2 meses da sua chegada tão breve.. 
Da sua vinda na minha vida pra me tornar uma pessoa melhor
Você me fez acreditar que eu posso tudo que eu quiser!!
Você me fez ter mais fé do que nunca
Você me transformou numa pessoa corajosa, em alguém que eu nunca antes ousei ser
E é por sua causa, é pela sua falta, por saudade de você
Que meus olhos brilham todos os dias, com lágrimas de saudade!!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

PERDÍ UM FILHO... O VAZIO QUE FICOU!!!



Uma família que perde um filho é muito assediada num primeiro momento. São os amigos, familiares, vizinhos, colegas, curiosos, etc. Mas conforme o tempo vai passando, e as pessoas vão retomando sua rotina, (afinal, a vida continua pra todo mundo) é que para os pais a realidade começa a se impor. As pessoas já não querem mais falar sobre o que aconteceu, como se não falando ajudasse a esquecer ou a não doer. Ao contrário de outras perdas, o tempo, no começo é um péssimo aliado, e quanto mais os dias vão passando, mais aguda fica a dor da realidade. O tempo cronológico de perda não é o mesmo da assimilação. Dói ver a rotina sem o filho. A vida não é mais a mesma, ela não continua, ela recomeçou sem aquela pessoa e com uma história interrompida. Nada é igual, a família modifica, falta um choro na madrugada, tem uma mamadeira lacrada no armário, aquela roupinha cheirosa no cabide, não tem uma fralda suja para ser trocada! Tudo aquilo que foi minuciosamente planejado foi por água abaixo, ou, melhor dizendo, por terra abaixo. Aquele amor que explode no peito nunca mais poderá ser expressado!! Aquele aplauso na primeira apresentação da escola ficou guardado na caixa dos desejos junto com a formatura do ensino médio, o casamento, a habilitação e tudo mais que se espera festejar com um filho!! A casa pode estar cheia de gente, mas sempre estará vazia porque falta alguém muito especial que deveria estar ali dividindo com todos aquele momento. E esta realidade é a que machuca, que se instala na vida de quem perdeu! Dói ir ao supermercado e não comprar aquele leite em pó, aquelas fraldas, lenços umedecidos. Dói colocar na mesa a comida que a mamãe amava comer na gestação e o bebê se contorcia de empolgação(??).
Dói Anoitecer. Dói no fim de semana quando os vizinhos procuram lugares pra sair e se divertir enquanto o único lugar que nos agradaria, que nos deixaria felizes, seria ao lado daquele filho. Dói passar em frente ao cemitério e relembrar o cortejo, a despedida. Dói ter uma vontade enorme de tirar seu filho daquele buraco gelado. Dói VIVER!! Porque a vida perdeu o sentido. Mesmo que haja outro filho, bons amigos, uma família maravilhosa.. ainda assim dói não ter aquele que partiu.. e como dói!! Esses detalhes são delicados pra se aprender a lidar, mas passam totalmente despercebidos por quem não compartilha daquela rotina, daquele ambiente, daquele lar. Se você pode nos consolar?? NÃO!! Infelizmente é impossível alguém nos trazer o consolo agora. Mas você pode ter paciência conosco, nos dar o tempo que precisamos e quem sabe um dia ainda riremos de novo, juntos, por um motivo banal.. QUEM SABE?!?!?!

SAMUEL.. PRA SEMPRE EM NOSSAS VIDAS!!

RELATO DE NASCIMENTO E DESPEDIDA DE SAMUEL CARAMEL


A internação foi feita no HCOR às 05:15h da manhã de quinta, dia 19/05/11.
Samuel nasceu as 10:45h, pesando 2,735g, medindo 45cm, com APGAR 7/9 e choramingando.. ele não chorou muito, mas mostrou que estava bem!! O papai o pegou nos braços, a mamãe deu um cheiro e um beijo, tiramos lindas fotos e depois ele foi levado pra UTI, onde seria monitorado até o momento da cirurgia. A felicidade que tomou conta de nós foi imensa, inexplicável!! Tínhamos agora mais uma razão pra viver e pra sorrir. Ele nasceu lindo!! Um menino tão perfeito!! Naquele momento eu senti uma vontade de pegá-lo no colo e sair correndo dali, trazendo ele comigo, pra casa!! Como era possível uma doença incompatível com a vida trazer ao mundo um bebê tão lindo e perfeito??? Era quase inacreditável.. mas sabem aquele ditado “Quem vê cara não vê coração”? era exatamente isso que acontecia ali...
Fiquei na sala de recuperação até as 13:00h, voltei pro quarto e lá estava um lindo buquê de rosas amarelas e alguns presentinhos que o nosso menino já havia ganhado em tão pouco tempo. Recebemos logo a visita da uma amiga, a vovó também já estava por ali e logo o papai voltou do almoço. Samuel chegou na UTI e ficou apenas sendo monitorado, não precisou de oxigênio, de tubo, de sonda, nada disso.. ele respirava sozinho, fazia muito xixi, mamava na chuquinha e já fazia cocozinho. A vovó foi a primeira a entrar pra visitá-lo.. mamãe e papai entraram na visita das 8 da noite quando fomos informados que a cirurgia ocorreria no outro dia logo após o meio dia. As 6 da manhã de sexta Samuel tomou sua última mamadeira. Na visita das 10:00h a mamãe teve a oportunidade de pegá-lo nos braços, por quase uma hora eu senti o cheirinho dele, analisei cada detalhe do seu corpinho, cada marquinha, cada curva, tudo era perfeito!! Ele até ganhou uma chupetinha e por já estar com fome ele não a largou mais.
Às 12:30h fomos chamados pra vê-lo antes de entrar no centro cirúrgico, levamos nosso bebê até a porta, demos um beijinho nele, fomos informados da gravidade do caso e dos riscos da cirurgia, assinamos o termo de autorização e nos abraçamos.. ali choramos nosso primeiro medo!! Vimos nosso menino entrando naquela sala, sendo levado para o único lugar do mundo que poderia salvá-lo, mas que também poderia tirá-lo de nós.. essa é, sem dúvida, a decisão mais difícil que um pai e uma mãe podem tomar!! Mas era a chance que ele tinha, ele precisava dela e merecia isso também!! Embora a vontade de correr com ele pra casa fosse enorme, nós o vimos acordado pela última vez e saímos. Voltamos pro quarto, pedi a Deus que cuidasse do meu menino e o trouxesse de volta pra nós!! E como sempre, Deus me ouviu!! A cirurgia havia começado as 13:00h e as 15:10h a enfermeira veio nos avisar que havia terminado e estava tudo bem!! Ficamos no quarto até a visita das 17:00h quando nossas esperanças começaram a desmoronar!! A médica nos informou que o quadro era muito grave, que ele teve uma bradicardia no final da cirurgia e estava com adrenalina na veia, pois havia ficado dependente dela e já não conseguia viver sem.. ela nos explicou que estavam pensando na necessidade de voltarem com ele pro centro cirúrgico, mas esperariam mais algumas horas pois não tinha nem 5 horas de cirurgia! Samuel não havia se adaptado ao procedimento e seu coração não aceitava a nova condição de vida! Na visita das 20:00h era outra médica mas o diagnóstico era o mesmo.. Samuel estava muito grave, não estava respondendo aos estímulos e não reagia como esperado!! Seu coração estava muito fraco e debilitado, cansado e sobrecarregado. E sua respiração estava ligada ao nitrogênio! Voltamos pro quarto arrasados, mas ainda esperançosos. Pedi a Deus pra cuidar do meu pequeno até a próxima visita. A vida nos hospitais não se resume a “um dia após o outro”, mas em “uma visita após a outra”.
Já estávamos dormindo, quando a enfermeira entrou, 01:30h da manhã, nos dizendo que a médica queria falar conosco. Desci da cama desesperada, descemos pra UTI e a médica nos recebeu dizendo que ele havia apresentado uma parada cardíaca a 01:00h da manhã e precisou de massagem pra voltar! Ficamos ali com ele alguns minutos, o monitor dele não parava de apitar, pressão muito baixa, saturação muito alta, batimentos fracos, respiração ofegante. Vê-lo sedado, imóvel, sem cor, foi a pior sensação que eu já havia sentido!! A Médica disse que se ele voltasse a parar ela não garantia que conseguiria trazê-lo de volta. Sentí que talvez fosse a última vez que o veria com vida, cantei uma música linda pra ele dormir e voltamos pro quarto chorando. Cheguei no quarto, deitei na cama e ali eu implorei a Deus pra poupar meu filho daquele sofrimento. Pedi ao Deus que sempre me ouviu, que me ouvisse mais uma vez, que não deixasse meu filho sofrer porque ele não merecia isso!! Fiquei mais de 1 hora falando com Deus, pedindo a Ele misericórida, pedindo que o Seu amor cobrisse meu bebê de paz, não me importava a maneira que Deus usaria, só queria que ele não sofresse mais... e mais uma vez DEUS ME OUVIU!!! Eita DEUS que nos escuta!!!
10 minutos depois a enfermeira entrou novamente no quarto e disse que a médica queria falar conosco de novo, eu já sabia o que aquilo significava, vesti um casaco e lá fomos nós, escutar a sentença!!! Na porta da UTI fomos barrados, uma das médicas me disse que já fazia 1 hora que ele havia parado e ainda estavam lá dentro tentando reanimá-lo, pediu que esperássemos na recepção mas que nos preparássemos para o pior! Sentei naquele sofá e esperei os 15 minutos mais longos da minha vida, quando a Dra apareceu na porta com uma expressão de tristeza. Eu comecei a chorar, meu esposo já chorava também.
A Dra Lily sentou ao nosso lado às 04:42h da manhã, pegou a minha mão e disse a frase mais dura, mais triste e mais direta que eu já ouvi na vida e que jamais vou esquecer: “Infelizmente Samuelzinho foi a óbito”!! Até agora não sei explicar o que eu senti naquele momento, não sei o nome disso, não é dor, não é tristeza, é algo muito mais forte.. uma mistura de saudade, com sentimento de perda, com dor e com AMOR!!! O amor torna tudo mais profundo, mais sensível, e com certeza torna a dor mais forte do que deveria ser!!
Mas o que seria da vida sem o amor??? O que seria do meu Samuel se eu não o tivesse amado desde o primeiro instante??? Então o amor concentra as coisas sim, mas é graças a isso que podemos tornar um momento de tristeza em um momento de saudade!!
Ficamos ali sentados, chorando, por mais de hora. Voltamos pro quarto acompanhados de duas amigas queridas que chegaram pra nos abraçar.. Ali no quarto ficamos, cuidando da papelada, ainda chocados com tudo!! Agora viria a parte mais triste, a burocracia!! Como se não bastasse todo o nosso sofrimento ainda tinha uma burocracia imensa pra resolver!! Fiz contato com minha irmã pra correr atrás de valores, pro traslado e pro que mais fosse preciso. Não havia passagem de avião em nenhuma empresa e o jeito era voltar de ônibus mesmo. A minha obstetra foi avisada e logo passou pra me dar alta. Conseguimos resolver a burocracia, o traslado ficou em 3.500 reais, que depois descobrimos que não cobria a gaveta e aumentaram mais mil reais. Mas nós precisávamos trazer nosso pequeno pra perto de nós. Se ficasse lá o que eu faria quando sentisse saudade??? Pra onde eu iria no dia do aniversário dele?? Então decidimos trazer e depois resolver como conseguiríamos pagar. Resolvemos a papelada do hospital, pegamos as declarações e fomos ao cartório registrá-lo.. foi tão triste fazer a certidão de nascimento seguida da de óbito!!! Triste demais!!!
Pedi pra escrivã tirar uma cópia da declaração de nascido vivo, onde tinha a marca do pezinho dele. Voltamos pra Pequenos Corações onde encontramos nosso filho mais velho e minha sogra, ali revi as amigas de dor, que conheci em meio ao sofrimento e as quais guardarei no coração para sempre!! Nos abraçamos, choramos juntas, distribui entre elas as coisinhas do meu Samuel, pra que os bebês delas pudessem fazer bom uso de tudo que ganhamos com muito carinho. Terminei de arrumar nossas malas, meu esposo levou a mãe dele com nosso Felipe até a rodoviária e os embarcou no primeiro ônibus com destino a Campo Grande. Assim que ele chegou na Pequenos Corações já estava tudo pronto, eu estava rodeada por amigas queridas que foram nos abraçar.. amigas que deixaram seus bebês no hospital por alguns minutos pra dividir conosco um abraço carinhoso!! O Motorista da funerária nos ligou informando que já estava na cidade e então voltamos pro Hospital. Lá eu procurei a Sala de transferência pra levar a roupinha mais linda pra vestirem nele, levei também um par de meias. Entrei a sala e pedi pra ver o meu bebê, a enfermeira me levou até ele... tão lindo!!! Tão sereno!!! Embora estivesse com as costelas roxinhas por causa da massagem cardíaca, ele ainda era lindo como o bebê que eu havia deixado dormindo, naquela madrugada! Vesti nele a primeira roupinha, calcei a primeira meinha, arrumei seu cabelinho e tomada de um amor incontável eu o peguei nos braços. Sentei numa cadeira ali ao lado da mesa, abracei meu pequeno tão forte quanto conseguí, na intenção de talvez Deus dar a ele o ar que eu respirava, ou de tirar de mim algum sinal de vida e dar a vida de volta a ele. Mas o milagre já havia acontecido, o milagre era o meu Samuel ter nascido e ter me dado 41 horas e 55 minutos de completa felicidade!!
Uma felicidade que eu jamais vou voltar a sentir porque o meu Samuel jamais voltará aos meus braços até que Jesus retorne a esse mundo! E ali, abraçada ao meu bebê, eu não conseguia dizer nada, não conseguia pensar.. o tempo parou por alguns instantes, não sei exatamente por quanto tempo, mas ali eu sentí a mesma dor que Maria sentiu vendo Jesus ser crucificado. A dor de perder um filho é uma dor que não tem fim!!!! Por fim, vendo que não conseguiria trazer meu amado de volta, dei um beijo em sua testa, outro em sua mão e o coloquei de volta naquela mesa gelada. Saí dali me sentindo um trapo de gente, com o coração estraçalhado, cheguei a pensar que se eu tivesse ficado em casa, deixado ele nascer aqui, talvez tivesse ao menos trazido meu bebê pra casa, talvez ele tivesse conhecido o irmãozinho, talvez ele tivesse ficado entre nós por mais tempo.. mas já era tarde demais pra pensar no talvez.. agora Samuel já não estava entre nós e o resto não importava mais!! Logo chegou o carro funerário, entramos e viemos embora. Saímos de SP as 16:40h e chegamos em Campo Grande as 04:00h.. foi uma viagem muito cansativa, emocional e fisicamente falando. Ao chegarmos na capela minha irmã já nos esperava, foi o abraço mais esperado que eu já recebi, o mais doloroso também!! Ali eu chorei de verdade, chorei cada milímetro da dor que eu estava sentindo. Entrei na sala de arrumações e pedi pra ver meu bebê de novo. Abriram a urna e lá estava ele, ficando roxinho, com a boca pálida, a expressão serena de um bebê que ainda dorme, mas ali eu já não o via mais como o bebê lindo que eu havia trazido ao mundo. Não parecia mais o meu bebezinho. Abri sua roupinha, peguei em seus pezinhos e tirei das duas perninhas as pulseirinhas que foram colocadas no momento do nascimento.. guardei as pulseirinhas na bolsa, fechei novamente sua roupinha e saí dali.
Deixei seu corpinho gelado dentro daquela urna e vim até em casa tomar um banho, eu precisava estar linda pra me despedir do meu filho!! Vesti minha melhor roupa, calcei meu melhor calçado, arrumei o cabelo e passei um perfume.. e as 7 da manha já estávamos de volta a capela e o funeral já estava pronto. Ali começamos a velar nosso amado filho. O momento da chegada foi também dos mais difíceis. Mas como eu disse, não era mais o meu bebê, não se parecia nada com o meu filho Samuel. Em seguida meu esposo chegou, tomado de um choro desesperado, de uma dor sem fim.. eu sei a dor que eu senti como mãe, mas não posso imaginar a dor de pai que ele sentiu, eu apenas via o quanto ele estava sofrendo mas só ele sabia o quanto doía nele. Passamos o funeral recebendo condolências, às vezes eu me aproximava do caixãozinho, passava a mão no seu rostinho, mexia no seu narizinho perfeito e voltava a sentar. O papai não se aproximou, não levantou da cadeira em momento nenhum.. ali ele ficou até o fim do funeral. As 12:25h o funcionário da funerária veio fechar o caixãozinho, havíamos decidido que não abriríamos mais e então foi o momento mais difícil e mais doloroso de todo o processo de perda: a hora da entrega!!! Ali eu deitei sobre o meu bebê, dei nele o último beijo, disse a ele as últimas palavras e chorei minha dor infinita de uma mãe desconsolada!! O papai se aproximou, chorou mais que havia chorado todo o tempo ali sentado, colocou a mão no bolso e retirou de dentro um carrinho que ele colocou na mãozinha do nosso bebê como se dissesse: “O papai não vai te esquecer, leve esse brinquedo pra não se esquecer do papai!”.
Ali nos abraçamos e juntos choramos a nossa dor, a nossa perda, choramos de tristeza juntos como havíamos chorado de alegria horas atrás. Retirei uma flor da coroa e segurei bem firme ao peito e seguimos o cortejo. E foi assim que, as 13:00h do dia 22 de maio de 2011, nós enterramos nosso filho e junto com ele enterramos a certeza do dever cumprido!!

SAMUEL... A mamãe não viu a cor dos seus olhinhos, não te vi fazendo xixi nem limpei seu bumbum sujo de cocô. Não ouvi seu chorinho nem escutei seu primeiro “bababa”.. Mas enquanto eu viver eu vou lembrar de você como o anjo que veio ao mundo com a missão de mudar as nossas vidas!! Obrigada por me dar a chance de ser sua mamãezinha. Obrigada por ter sido meu filho amado, que será lembrado eternamente com lágrimas de saudade. Te amarei pra todo o sempre!!


Ass: Mamãe!!!

sábado, 9 de abril de 2011

Deus é PERFEITO!!! Nada do que Ele faz possui qualquer falha!!!

O título do texto já diz TUDO!!!

Deus é PERFEITO demais pra errar.. Ele nao erra.. Ele calcula, planeja e executa!!! Tudo no tempo certo!!

CONSEGUIMOS RESOLVER O PROBLEMA DA ACOMPANHANTE!! Na verdade DEUS RESOLVEU!!!!



Estamos de malas prontas.. rumo a SP na terça ou quarta feira..

Deus não enviou uma acompanhante, Ele providenciou alguém que pudesse nos acolher até que nossa acompanhante chegue!! A nossa luta pela acompanhante continua, mas lá em SP, perto dos recursos de que precisamos!! E se conseguimos um meio de irmos agora tenho certeza que também vamos conseguir a acompanhante pra ficar conosco depois.. mas até o final de abril nós temos onde ficar..


resumindo:  ATÉ AQUI NOS AJUDOU O SENHOR!!!!  =]

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Uma Mãe Dividida NÃO É Uma Meia Mãe!!!!!!!

Estamos aqui ainda, Samuel, Felipe e mamãe.. uma única mãe.. dois filhos.. o que fazer????
Samuel precisa nascer em SP, Felipe não tem com quem ficar aqui em Campo Grande. Mamãe conseguiu tudo pra levar Felipe pra SP mas falta um último detalhe: A ACOMPANHANTE!!!!
Sem uma acompanhante a mamãe não pode ir.. a ONG que vai nos receber só aceita a mamãe com acompanhante. A mamãe até pode ficar em outra ONG, mas lá o Felipe não pode ficar, não tem estrutura pra uma criança ficar por 30 dias.. E AGORA MAMÃE???????


Mamãe queria ser duas!!! Deixava uma aqui com Felipe e levava a outra com Samuel.. mas a mamãe é uma só e está dividida!! Mas nem porque a mamãe está dividida ela é menos mãe.. Felipe diz: "Ama Mamãe!", dá beijo, abraço, pede colo e choraminga um 'dodói'.. a mamãe grava na memória cada momento desse pois sabe que nenhum vai voltar.. mas a mamãe ainda precisa da bendita acompanhante!!!


Ela já está na 32ª semana de gestação, já deveria estar em SP pra garantir que o Samuel fique bem caso nasça antes do tempo.. mas ela não pode ir sozinha.. mas ela precisa ir até a semana que vem.. mas ela não pode ir sozinha!!!!


Hoje a mamãe chorou.. se sentiu um lixo de mãe!! Chorou por não poder estar em dois lugares ao mesmo tempo.. chorou por não ter com quem contar.. chorou por ter que enfrentar tantas situações sozinha... e a mamãe chorou de medo.. ela tem muito medo, mas nem ela sabe direito do quê.. a mamãe faz tudo que pode, mas tem coisa que ela não pode!! E ela continua precisando de uma acompanhante...


E aí... alguém se habilita???

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ser Mãe de Cardiopata!!


Ser mãe de cardiopata, é abdicar de planos e sonhos para viver uma vida de incertezas e sustos.
É travar pequenas batalhas todos os dias esperando que no final da luta saíamos todos vitoriosos, quando na verdade a grande vitória é nos mantermos de pé.
É rezar todos os dias para que possamos ver nossos filhos crescerem, irem a escola, namorarem, casarem terem seus próprios filhos, mas acima de tudo, amar tanto, tanto, que em alguns momentos apenas desejamos que eles não sofram mais.
É aprender a compartilhar a dor, entendendo que dor de mãe não tem tamanho nem intensidade, é simplesmente DOR.
É descobrir que ser mãe é ter um estoque infinito de AMOR e de FORÇA, é brigar como nunca imaginamos que poderiamos, é chorar, rir, se desesperar, mas nunca desistir.
É ter marcas que jamais se apagam, que nos fazem recordar o quanto tudo valeu a pena.
É sentir a angustia da impotência e a felicidade de podermos estar aqui para dar a mão a estes seres tão especiais.
É não saber até quando teremos estes anjos conosco, e mesmo assim, agradecer cada minuto que estamos ao seu lado.
É finalmente compreender que amor de mãe não respeita tempo nem espaço, ultrapassa os limites do infinito e da própria vida, sempre existiu e sempre existirá.
Valéria Guimarães de Macedo

AACC Pequenos Corações e um anjo chamado THIAGO!!

Thiago viveu 3 anos e meio, era portador de SHCE (Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo).


Um dia, fuçando os orkuts da vida, ví um menininho de 3 anos que começava a dar os primeiros passos, ele tinha um sorriso tão lindo no rosto que era impossível não parar o que estava fazendo pra comemorar com ele aquela vitória.. e foi emocionante!!!! Thiago, filho da Márcia Adriana que hoje é Presidente da AACC Pequenos Corações, era uma criança linda, uma criança guerreira, uma criança feliz!!! Mas ele se foi... ficou o vazio nos corações.. mas ficou também a vitória, não só dele, mas de todas as crianças que a AACC Pequenos Corações ajudou depois da sua partida!! Hoje a Márcia luta pra salvar as vidas dos NOSSOS filhos e já fez isso inúmeras vezes, ja ajudou muitas famílias desesperadas porque ela sente o que a gente sente, ela viveu o que nós vivemos hoje e ela sabe que nossos filhos tem chances de nascer, crescer e viver como outra criança qualquer... ela ACREDITA nos nossos filhos, até mais que nós mesmos, algumas vezes!!!
A Pequenos Corações conta com várias voluntárias, todas as pessoas que trabalham unidas na PC tem o mesmo propósito: AJUDAR A SALVAR VIDAS!!!

Se você também quer ajudar participe das divulgações.. comece agora mesmo divulgando o Calendário Pequenos Corações. A AACC recebe mães e crianças cardiopatas de todo o Brasil, as acolhe, proporciona pouso, café da manhã, conforto, carinho e apoio emocional!! Ali muitas mães podem compartilhar experiências, comemorar juntas as  alegrias, dividir as tristezas... Ali todas se tornam uma única família em busca do mesmo objetivo. O calendário tem como finalidade arrecadar fundos para a ONG, pra que ela possa continuar ajudando outras famílias. Participe dessa ajuda você também!!




FAÇA JÁ O SEU PEDIDO PELO e-mail: pedidos@pequenoscoracoes.com
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